terça-feira, 1 de novembro de 2011

Risco risca faca (faca de repente)



Lucas Costa + Gui Furtado
O supérfluo sempre vaza; tudo aqui, besteira será, por que o aço irá agir forte e feliz, aqui e agora, porque o ruído da cidade cessou, nenhuma zuada; na minha frente um negócio, o capeta, um troço, ponta de metal mais turva, o oxigênio que levou o brilho,  me causará tétano se não me derrubar num só golpe. Eu e eu e esta ponta que quer minha banha nesse meio fio sujo. Esta lâmina suja e esta conversa malamanhada de bonzinhos, "eu não quero te furar", "leve o que quiser". Fuleragem, eu não nasci pra isso, poderia estar em outra esquina de Deus, que rata! Mais ninguém, eu e eu e a ponta que quer minha banha. Se ao menos o corte fosse feito pelas mãos da temperatura do metal, quem sabe eu partiria feliz como a galinha sem pescoço e o sangue esguichando e ela pulando, não! Está mais pra tourada, fudido a toda sorte. O corte norte-sul poderia atingir diretamente minha cabeça, uma drenagem medieval (que vontade de tutano). Mas pra região que está direcionada, será mais fácil a castração. Isso! Cape- me logo, me poupe da macheza, metal; não vai envergar, caráter não se esconde, direto, quer meu bucho; frio, quer rebolar lá dentro; falta de educação completa. Quer eu e eu e minha banha quente. Será que o gosto da banha será o mesmo das buchadas de bode daqui? Se servida com molho de hortelã (que vontade de comer carneiro) espetinho de Kafta... Se estou condenado, não estou somente condenado à morte, mas também a defender-me até a morte (?)[1]. Não quero ser espetado pelo punhal que quer um punhado de minha banha quente e eu e eu. O fato que agora eu quero ver e quero analisar, só não posso sentir a textura gélida do vergalhão no meu bucho, seria uma paralisia infame. O bom método é perfurar outro corpo, eu não quero perder todas as minúcias, não quero incômodos no abdômen. Aperreio, eu e eu e esta ponta que quer minha banha nesse meio fio sujo. Esta lâmina suja e esta falácia de bonzinhos, "não vou te furar", "não tenho nada". Quando há algo apontado pra mim, a tendência é reverter o processo, causa-efeito; nada que ver com vingança, olho por olho é também uma lei. As touradas abalam; não darei conta nem serei motivado o suficiente pra ser o touro arretado que corre de encontro com quem o fode. Nem compensa, que sensualidade medíocre do safado, merda total. A raiz do pessimismo está nessa faquinha safada. A reabilitação para os tronchos já formulei e, com a ajuda de Pai Cícero colocarei em prática, vou tentar logo nesse, se ele não me surpreender. Assim que eu sair daqui, a coisa vai funcionar. Nesse atrasa lado, estou convencido já, que a educação para os maledicentes deva ser inteligente e elegante, mas implacável, como as alpercatas de Graciliano Ramos. Todo açougueiro sabe que o corte é funcional, eu e eu também, as aulas do aço deixam minha banha que treme endurecida feito um músculo exausto. A picanha é retirada, co’a vaca toda dada de anca pra riba mirada pro meio da cara, pro alho lambê-la e depois o rumo é a pança. Até buchada de bode vira dobradinha. A pessoa deve comer qualquer pedacinho que porventura retirou de seu irmão. O Mike Tyson comeria orelhas; os judeus, chapeletas de pintos e assim por diante. Inteligentes esses açougueiros; os tupinambás morreriam de orgulho. Esse bilotinho me ofende, mas o punhalzinho me dá medo. Eu desenrolado, agora estribado, sempre fui cabra danado, virado no molho de coentro. Isto gela como na minha terra, quando o barulho do cascalho era o esmeril da pechera, com o baião de Luiz Gonzaga, zumbindo nas orelhas, o risca-faca só estanca com carrapeta. O breguinha do som que ouvi ali em largo do Arouche agora parece o Zé Teixeira cantando com força de três ou quatro pulmões: “Não existe amor em S.P.”[2] Entendi. Esta é a canção agalopada daqui.  Um golpe, uma risada, uma pipada e minha banha quente esfriando no meio fio. As borboletas estão chegando[3]/ As pombas estão voando. Esta deve ser a transcrição sucinta. Eu e eu, no covil cinza, nesta catarata apenas o brilho talentoso que dribla as calúnias da ferrugem para se apresentar a mim e eu, ela continua querendo minha banha quente. Sou seu nelore valente. E é que o aço abre beiço babando sangue do bucho, cas tripas pulando pra fora. Se cabra não se segura, sai arrastando intestino. Essa boca babada, sedenta quer mesmo eu e eu e, toda essa pouca banha, poderia passar horas ruminando com molares toda essa carne magra. Mas que não se distraia, pra azar dele, porque aqui canino afiado rasga e arranca peça toda. Amolado fica sempre o aço, pele de safado sai fácil feito meia calça, nem sinal de violência na carne fica, mas afundar no bucho abre beiço berrante e é aí que bicho arria as pernas.

Agora é banha de repente. Agora é neblina, olho de preto véio, me acabou o cristalino. A luz me alumia? Eu adoro gente.
Churrasco grego pra Troianos.



[1] Citação de Franz Kafka
[2] Citação da música de Criolo Doido, “Não existe amor em S.P”, 2010.
[3] Citação da música de Alceu Valença e Zé Ramalho; “A dança das borboletas”, 1978.


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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Heidegger mc's

Let's Toast heute, für morgen zu Gott gehört (oder ich?), das Leben ist verrückt!
Vamos brindar o dia de hoje, pois o amanhã pertence a deus (ou eu ?), a vida é louca! Quem proferiu? Martin ou mano brown? A aula é inaugural: o que é metafísica ?
O sujeito é o homem, o mundo é o objeto.
Internet? i-pad? fibraótica? atrasado estou um pouco,disse Brown em uma fita k7. A oralidade instalada acorda o Capão redondo pro arrebento; antes comem pão com manteiga e pingado; céu cinza, caminham tensos. Tempo curtos tempos, desconhecem, mas agem; na medida em que existem por metro quadrado. Ninguém domina a tecnologia apesar dos telecentros, é uma inimizade ou placebo. São leões  grandes que não cabem em quintais e kitnets. Heidegger blasé, porém bom tom, as regalias demandam da América e Europa  pressupostos dominação/exploração. O sintoma mora ao lado,  mora nas vielas de baixo. Martin marginal sopra o vento, assalta bancos de canivete, furta souvenirs na tranquilidade pro ente. Ninguém quer fita do Bonfim, é outra fita! Idiotas portas que soam, tem alguns x-9  instalados na parede que não vão ao banheiro, o sistema não dá brechas. Eu domino, tu revida; América nortista, a Rússia comunista?
Um velho bitolado grita em todos os cantos: irmão! não inveje o homem violento e nem siga nenhum de seus caminhos. Os pastores rondam capão redondo, a função sussurra, as trombetas não param nunca, ta em looping. Todos vão roubar objetos pra não serem objetos, artigo 157 é melhor que 173; fértil como terra preta é a mente do vilão, nazista que amou a judia, arquiteta Capão. Sujeito objeto, impossível, não é identificável, é o bunker heideggeriano periférico. Mcs da metafísica programado pra morrer, certo é, dê no que der. Zona sul flagrou o dasein, o pivete grita: sai deus é mais, vai morrer pra lá zica. Heidegger  clareou, Filosofia de fumaça; analise, cada favelado um universo em crise. todos sabem dos controladores de vôo, a PM rouba brisa pró - sã finitude; os seres para a morte, seres para o mundo. Dasein, dasein, dasein.
Apontou coisificação, Brown? Latente na paulicéia dos desvairados irmãos.  A vida é bela, os males tragos da guerra de classes atravessam a ponte e estão sendo degustados, champanhe para os burros. Alguém disse que homeopatia não é comprovada? Alopatia pode ser natural, as guerras são naturais, o cano da escopeta não se volta para quem empunha. Alô pátria!
Programado pra morrer, dê no que der.
Ontologia super-bacana; macacos não pintam bananas, comem bananas. Quem deu taça de veneno reclama um suflair?
Dann Toast. Das Leben ist verrückt  o capão não sabe de tudo estranho fruto: Então brindamos; a vida é loka.
O mundo, ô mundo.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Estouro, maçã verde, estouro, Amilcar, estouro, flamboyant.

            E soprando, foi enchendo um balão, sem saber até que ponto iria, simplesmente foi assim que o estourou.

            Maçã verde; confesso que nunca me ative. É como aquelas coisas, que você tem certeza de sua existência apenas nos desenhos animados, e assim ficou no fundinho da memória. Parecem alguns daqueles alucinógenos- super verde, bem Brasil. Um matiz tão definido. Seria uma boa aula para camaleões. Gigante distanciamento pela estranheza que me cria, como se fosse tarjas pretas, ou um fungo que nunca pode ser ingerido.
            Tão mimética quanto à borboleta e o camaleão, distanciando à sua maneira da realidade, construindo em minha cabeça, uma perfeita arquitetura da fantasia. O limiar que se criou, e por todo o tempo, se camuflou em lembranças que já não atestavam veracidade, uma genealogia impossível de esmiuçar. E por isso a densidade da imagem ganharia cada vez mais complexidade, e agora, torna o momento em que o detetive perde suas instrumentações, e enlouquece. A ruptura importante para o nascimento de meu realismo fantástico.
            E se a convenção criada para o pecado original fosse a maçã verde ao invés da vermelha? O verde que tanto grita, mas não pede pra ser escolhido, pois é tão misterioso e artificial. A madrinha dos Beatles; daí o fato inverossímil destas maçãs. O verde que seria, assim, a cor tesuda, que não cede; das paixões e dos desejos, mais não do amor, pois este se reserva pro coração, vermelho. Então o amor seria totalmente diferente da excitação, verde seriam as sex shops. Tesão, algo parecido com a estética que criamos para os ETs. Fui abduzido; seria o mesmo de dar ou comer algo; homem, mulher, todos.
            Então algo seria menos enrijecido, nossas enfadonhas conversas que tendem para as mais perversas diretrizes, não teriam importância nenhuma, já que prazer, o sexual, nasceria de alguma forma apartada em nossa leve cabeça, pois a cor, que tanto opera, mostraria mais uma vez sua potência em juntar ou separar, porque estaríamos bombardeados de verde -este sempre vem primeiro-, e o vermelho não seria tão usado, todos teriam um respeito ao assimilá-lo, e usá-lo, deixando em total segurança; cofres.
             Então por termos esta dualidade, já não sobraria debates que compete a isto; seria procurar pêlo em ovo. Uma dicotomia tão natural, que nem teríamos repulsa, ou culpa, ou analistas -meus amigos de hora marcada. Degenerados hoje são os que já pensam em dar outros significados para maças verdes, plenamente.
            E, teríamos uma vontade incondicional de cuidar das matas (e toda a natureza, por extensão), pois o verde conquistador entraria em nossas vidas, como cowboys dos filmes Western: dando um pontapé nas portinhas dos bares- cabarés. Uma atenção que achamos que temos, talvez conceitualmente. Seria fundamental, uma necessidade, físico/sexual. Animalesco quanto a nossa raiz, um regresso.

            Começou a inflar outro balão, gostando do ocorrido com a bexiga anterior, enchia os peitos de ar, até torcer suas escápulas, comprimia-os e devolvia com toda a força para dentro do balão. Nove atos, outro balão que estoura.

            Então peguei um clipe (destes de escritórios), e desdobrei ele todo, vi que suas sustentações se ligavam confortavelmente com Amilcar de Castro. Dei o nome de “micro esculturas para Amilcar”. E continuei até que quebrassem de tanto ir pra lá e pra cá, formulando hipóteses para o funcionamento do aço delicado e as relações com os seus semelhantes, ora colocados juntos, ora dispostos isoladamente. Mas percebi que era pura intimidade de trabalho, parece um lavabo de atelier -onde por acaso, o artista esqueceu um pormenor- e não a coisa em sua completude; está relativo a suposições criadas para um indivíduo, meu próprio-ponto-de-vista, ou uma mostra de coleções que ficaram por muito tempo num arquivo encostado nos cantos da casa de um marchand preguiçoso.
            A dimensão oposta de Amilcar é o que o torna público, caso contrário seria algo tão pessoal, que um gramado do Inhotim, ou qualquer praça pública, detestaria. E chamaria a atenção dos passantes para que retirasse aquela necrose, enfermidade que diminuirá seus arredores.
            Amilcar deve ter pensado em clipes. A quebra do grampo é a falência da harmonia, da auto-suficiência, ocuparia menos espaço no seu cérebro com estes dados técnicos.
            Então quando cuspiu, olhou seu espaço circundante e pensou: tenho que vomitar!

            Colocar ar naqueles balões não era mais um fundamento para seu exercício, e sim o veículo para outra coisa. O estouro. Estouro do norte, estouro do sul, estouros.  Criar agora anti- balões. Traga e solta, traga e solta, traga e solta, ligeiro. Os fins justificarão os meios.
           
            Campinas tinha um flamboyant totalmente retorcido, pois a copa se esquivava de uma robusta viga, que integrava uma construção. A árvore, cínica como Diógenes, chegou a encostar-se à pastilha de cimento e ali ficou por um bom tempo, mantendo um flerte, se encostando e se estranhando. Tronco forte que roçava de forma paulatina o concreto armado. Uma perfeita pavana que Alexandre Magno, contudo, não cessou, continuou firme e forte negando qualquer movimento ou fratura. Diógenes, constrangido por não conseguir penetrar em sua paquera, e não acostumado com estas desfeitas, pois as calçadas sempre o cedem espaço, decidiu se esquivar e buscar a luz que lhe tampara, de outra forma. Mas como bom galanteador, continuou bem ao lado, mantendo um contato.
            Ó mundo, torto que adoro. Com tortas sombras, minhas grandes amigas. Sombra que projeta com irregularidade digna, que assim causa uma modulação junto ao concreto; onde toda simetria torna rebelde por não ser tão convincente, porque a arbitrariedade da luz e sombra, totalmente mutável, provoca uma harmonia que Vitrúvio não desconfiou que existisse. Às vezes, podíamos pintar com tinta ou graxa, estes mini-eclipses, para demarcar o momento em que lambeu o local; aprisionar o tempo que passa suave, implacável.
            Eclipses que viram pontos de encontro; para piquenique, para dormir, para ler, para esperar o ônibus, para formar uma fila; para fugir do avassalamento perturbador dos trópicos, o grande astro que tende fazer suas melhores performances nestes cantos do mundo.
            Mesmo nestes shows, gostamos de exclusividades, não queremos ficar ao léu. Por isso escolhemos as sombras-camarotes mais agradáveis para ver a bola amarela lançar seus raios contra tudo, sem filtro algum, democrático e ditador sempre. Modifica e se reabilita por que não pintamos- se houvesse, traria consigo marcas das conquistas espaciais anteriores, como a torção do flamboyant- estas constâncias solares que desenham todos os dias as melhores formas, mais invasivo que um pixo, temporal como uma dança, todos os dias estou a olhar estes balés para pontos de fuga.
           
            Já tonto, de tanto soprar, olha para o céu. E passa a gostar do frenesi, satisfeito fecha os olhos. Pensa nos balões. Apenas nisso