quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Estouro, maçã verde, estouro, Amilcar, estouro, flamboyant.

            E soprando, foi enchendo um balão, sem saber até que ponto iria, simplesmente foi assim que o estourou.

            Maçã verde; confesso que nunca me ative. É como aquelas coisas, que você tem certeza de sua existência apenas nos desenhos animados, e assim ficou no fundinho da memória. Parecem alguns daqueles alucinógenos- super verde, bem Brasil. Um matiz tão definido. Seria uma boa aula para camaleões. Gigante distanciamento pela estranheza que me cria, como se fosse tarjas pretas, ou um fungo que nunca pode ser ingerido.
            Tão mimética quanto à borboleta e o camaleão, distanciando à sua maneira da realidade, construindo em minha cabeça, uma perfeita arquitetura da fantasia. O limiar que se criou, e por todo o tempo, se camuflou em lembranças que já não atestavam veracidade, uma genealogia impossível de esmiuçar. E por isso a densidade da imagem ganharia cada vez mais complexidade, e agora, torna o momento em que o detetive perde suas instrumentações, e enlouquece. A ruptura importante para o nascimento de meu realismo fantástico.
            E se a convenção criada para o pecado original fosse a maçã verde ao invés da vermelha? O verde que tanto grita, mas não pede pra ser escolhido, pois é tão misterioso e artificial. A madrinha dos Beatles; daí o fato inverossímil destas maçãs. O verde que seria, assim, a cor tesuda, que não cede; das paixões e dos desejos, mais não do amor, pois este se reserva pro coração, vermelho. Então o amor seria totalmente diferente da excitação, verde seriam as sex shops. Tesão, algo parecido com a estética que criamos para os ETs. Fui abduzido; seria o mesmo de dar ou comer algo; homem, mulher, todos.
            Então algo seria menos enrijecido, nossas enfadonhas conversas que tendem para as mais perversas diretrizes, não teriam importância nenhuma, já que prazer, o sexual, nasceria de alguma forma apartada em nossa leve cabeça, pois a cor, que tanto opera, mostraria mais uma vez sua potência em juntar ou separar, porque estaríamos bombardeados de verde -este sempre vem primeiro-, e o vermelho não seria tão usado, todos teriam um respeito ao assimilá-lo, e usá-lo, deixando em total segurança; cofres.
             Então por termos esta dualidade, já não sobraria debates que compete a isto; seria procurar pêlo em ovo. Uma dicotomia tão natural, que nem teríamos repulsa, ou culpa, ou analistas -meus amigos de hora marcada. Degenerados hoje são os que já pensam em dar outros significados para maças verdes, plenamente.
            E, teríamos uma vontade incondicional de cuidar das matas (e toda a natureza, por extensão), pois o verde conquistador entraria em nossas vidas, como cowboys dos filmes Western: dando um pontapé nas portinhas dos bares- cabarés. Uma atenção que achamos que temos, talvez conceitualmente. Seria fundamental, uma necessidade, físico/sexual. Animalesco quanto a nossa raiz, um regresso.

            Começou a inflar outro balão, gostando do ocorrido com a bexiga anterior, enchia os peitos de ar, até torcer suas escápulas, comprimia-os e devolvia com toda a força para dentro do balão. Nove atos, outro balão que estoura.

            Então peguei um clipe (destes de escritórios), e desdobrei ele todo, vi que suas sustentações se ligavam confortavelmente com Amilcar de Castro. Dei o nome de “micro esculturas para Amilcar”. E continuei até que quebrassem de tanto ir pra lá e pra cá, formulando hipóteses para o funcionamento do aço delicado e as relações com os seus semelhantes, ora colocados juntos, ora dispostos isoladamente. Mas percebi que era pura intimidade de trabalho, parece um lavabo de atelier -onde por acaso, o artista esqueceu um pormenor- e não a coisa em sua completude; está relativo a suposições criadas para um indivíduo, meu próprio-ponto-de-vista, ou uma mostra de coleções que ficaram por muito tempo num arquivo encostado nos cantos da casa de um marchand preguiçoso.
            A dimensão oposta de Amilcar é o que o torna público, caso contrário seria algo tão pessoal, que um gramado do Inhotim, ou qualquer praça pública, detestaria. E chamaria a atenção dos passantes para que retirasse aquela necrose, enfermidade que diminuirá seus arredores.
            Amilcar deve ter pensado em clipes. A quebra do grampo é a falência da harmonia, da auto-suficiência, ocuparia menos espaço no seu cérebro com estes dados técnicos.
            Então quando cuspiu, olhou seu espaço circundante e pensou: tenho que vomitar!

            Colocar ar naqueles balões não era mais um fundamento para seu exercício, e sim o veículo para outra coisa. O estouro. Estouro do norte, estouro do sul, estouros.  Criar agora anti- balões. Traga e solta, traga e solta, traga e solta, ligeiro. Os fins justificarão os meios.
           
            Campinas tinha um flamboyant totalmente retorcido, pois a copa se esquivava de uma robusta viga, que integrava uma construção. A árvore, cínica como Diógenes, chegou a encostar-se à pastilha de cimento e ali ficou por um bom tempo, mantendo um flerte, se encostando e se estranhando. Tronco forte que roçava de forma paulatina o concreto armado. Uma perfeita pavana que Alexandre Magno, contudo, não cessou, continuou firme e forte negando qualquer movimento ou fratura. Diógenes, constrangido por não conseguir penetrar em sua paquera, e não acostumado com estas desfeitas, pois as calçadas sempre o cedem espaço, decidiu se esquivar e buscar a luz que lhe tampara, de outra forma. Mas como bom galanteador, continuou bem ao lado, mantendo um contato.
            Ó mundo, torto que adoro. Com tortas sombras, minhas grandes amigas. Sombra que projeta com irregularidade digna, que assim causa uma modulação junto ao concreto; onde toda simetria torna rebelde por não ser tão convincente, porque a arbitrariedade da luz e sombra, totalmente mutável, provoca uma harmonia que Vitrúvio não desconfiou que existisse. Às vezes, podíamos pintar com tinta ou graxa, estes mini-eclipses, para demarcar o momento em que lambeu o local; aprisionar o tempo que passa suave, implacável.
            Eclipses que viram pontos de encontro; para piquenique, para dormir, para ler, para esperar o ônibus, para formar uma fila; para fugir do avassalamento perturbador dos trópicos, o grande astro que tende fazer suas melhores performances nestes cantos do mundo.
            Mesmo nestes shows, gostamos de exclusividades, não queremos ficar ao léu. Por isso escolhemos as sombras-camarotes mais agradáveis para ver a bola amarela lançar seus raios contra tudo, sem filtro algum, democrático e ditador sempre. Modifica e se reabilita por que não pintamos- se houvesse, traria consigo marcas das conquistas espaciais anteriores, como a torção do flamboyant- estas constâncias solares que desenham todos os dias as melhores formas, mais invasivo que um pixo, temporal como uma dança, todos os dias estou a olhar estes balés para pontos de fuga.
           
            Já tonto, de tanto soprar, olha para o céu. E passa a gostar do frenesi, satisfeito fecha os olhos. Pensa nos balões. Apenas nisso

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